Imagino como devem ser as aulas de Redação dessa aluna...
Antes de continuar, queria fazer um adendo: numa redação, você tem que analisar duas coisas: tema e tópico-controle. O tema é “leitura”, o tópico é “liberdade criativa”. Você pode discorrer sobre o assunto (descrever, narrar, explicar) ou argumentar (colocar seu ponto de vista).
A frase dada para desenvolver esa redação se pauta numa opinião, um viés. Portanto, não há como escrever uma dissertação que não seja argumentativa. Mas cadê o valor da redação se aquilo que você escreve não é sua idéia?
De acordo com essa professora, se você escrever discordando que há liberdade criativa na leitura, você fugirá do tema, que é “leitura”. Explicação inexplicável.
"Cuidado: professora em TPM" E se eu mandasse meus alunos escreverem sobre isso, eles teriam que concordar, professora?
Assim, partimos da suposição que você deve sempre concordar com a opinião alheia, senão você foge do tema. Consequentemente, perdemos nossa liberdade de expressão.
Agora, vejamos as explicações de uma aluna para não escrever discordando da frase:
“o tema era abrangente demais, e a professora costuma aceitar só um tipo de interpretação...”
“ela queria que eu falasse como é verdade essa frase.”
“quando explicou o tema pro plantão ela disse que seria fugir do tema ir contra as idéias”
“ela tinha avisado que tinha que ir a favor do tema...”
(Makoto CHUTANDO a cadeira de indignação)
Num lugar que tem como dever social desenvolver o senso crítico do jovem cidadão, ter tal atitude é um contra-senso, para dizer o mínimo. Na verdade, o aluno está, desde cedo, sendo condicionado a seguir regras pré-definidas e, assim, não perturbar a ordem vigente.
"Can you say brainwashing...?"
Claro que, como ouvi só o lado da aluna na situação, não vou fazer como a professora dela supostamente fez; professora, caso meu post chegue aos seus olhos, fique à vontade para discordar. Colegas de escola da aluna, caso vocês possam ajudá-la, fiquem à vontade.
Agora, supondo que a aluna com quem eu falei esteja falando a verdade, dou-me a liberdade de contra-argumentar suas idéias:
“o tema era abrangente demais, e a professora costuma aceitar só um tipo de interpretação...” Se o tema é abrangente demais, é dever da professora guiar o aluno para algo mais específico. E acho que você não quis dizer “interpretação”, mas “opinião”, certo?
“ela queria que eu falasse como é verdade essa frase.” Então, deixe bem claro para ela que a redação que você escreverá não reflete o que você pensa e, portanto, não tem valor nenhum que não seja para ganhar pontos. Consequentemente, questione a professora se a prioridade dela é realmente o ponto, ou o aprendizado.
“quando explicou o tema pro plantão ela disse que seria fugir do tema ir contra as idéias” Sim, assim como é crime nos países totalitários ir contra o Governo.
“ela tinha avisado que tinha que ir a favor do tema...” Ter que ir a favor não é aviso, é imposição.
No fim das contas, a liberdade criativa que a professora tanto quer que os alunos apóiem simplesmente não existe, nem na leitura, nem na produção de texto. Como, então, ela quer que os alunos concordem com algo que nem ela mesma segue?
(Makoto quase socando o PC de INDIGNAÇÃO).
“E o que você falou para essa aluna, Makoto?” Bom, eu perguntei se ela concordava coma frase. Ela responde:
“não... mas ela que é a professora.”
Claro, numa sala, é a opinião da professora que conta.
E por que ela não questionou a professora, se ela mesma disse que não concordava com a frase. Resposta dela:
“ahh, mak. não no colégio. eu tenho que ser MUITO boa pra ir contra um professor.
(Makoto solta um palavrão cabeludo de INDIGNAÇÃO)
Há três erros na afirmação dela. Primeiro, questionar não é ir contra, é perguntar a razão. Se a professora não colocar seus argumentos, então ela irá contra ela mesma. Segundo: o que te faz pensar que você não é boa o bastante pra questionar algo que você acha errado? Isso não é ser boa, é ter medo da autoridade. Ou seja: o professor, nesse caso, reprime o senso crítico do aluno. Terceiro: SIM no colégio. Afinal, lá que é o lugar pra você aprender e praticar o que você vai usar na vida.
Ou seja, seus pais pagam 1000 reais por mês para que vocês sejam reprimidos, privados do sol, do ar, se estressam, e ainda levam lavagem cerebral. Vocês podem ter isso de graça: assistam à televisão.
Frases da Hora: “Não precisamos de controle de pensamento. Sem sarcasmo macabro dentro da sala. Professores, deixem-nos em paz. No fim das contas, vocês são só mais um tijolo na parede que nos separa da liberdade.” (Pink Floyd & Makoto)
Ué, achei que já tinha respondido a esta pergunta... msn: nemchama@hotmail.com