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quinta-feira, dezembro 28, 2006
 
COGITO, ERGO SUM

Acabei de voltar de um encontro e tanto com alguns dois amigos meus, incluindo Leo e Maroka. Fazia tempo que não ouvia tanta sinceridade e desprendimento em duas pessoas. Quer dizer, somos tão amigos que eles sabem que não precisam ter freios para falarem pra mim o que acham sobre as coisas.

O interessante é que essa conversa se deu no período mais propício: o fim do ano, época em que a gente olha pros doze meses passados e faz um balanço da nossa vida. Apesar de eu ter aversão a rituais, fazer resoluções de ano novo tem sua praticidade.

O melhor ano da minha vida compreendeu o segundo semestre de 99 e o primeiro de 2000, por vários motivos não importantes agora. 2006, entretanto, superou de longe aqueles semestres de 6 anos atrás.

Obviamente, pensamos que as melhores épocas da nossa vida são aquelas em que só acontecem coisas boas. Porém, se você tende a achar que algo aparentemente ruim na sua vida pode – e deve – trazer bons frutos, esse juízo de valor se torna irrelevante. É o que aconteceu comigo este ano.

Não me lembro de ter tido muitas coisas ruins, provavelmente porque eu as considerei parte de um processo mais amplo, que é minha evolução pessoal. Bom, isso é uma conduta que alguns amigos meus vêem com reserva. Acham eles que eu gasto muita energia tentando achar sentido nas coisas.

Sim, gasto. Não há como negar. Assim como há pessoas que gastam energia tentando levar alguém pra cama; ou gastam energia tentando convencer pessoas de que estão erradas; ou gastam energia se estressando com o trabalho de que não gostam. Cada um gasta a energia da forma que convém.

No meu caso – sim, serei auto-indulgente, Gaúcho – adoro gastar energia desta forma. Gosto de pensar, de analisar, de ver como as coisas funcionam. Se isso é uma obsessão, juro que não sei – o fato é que não fico doente por causa disso.

Maroka me falou, de forma meio pejorativa, que passo muita convicção no que eu falo, talvez por eu ter pensado e analisado várias vezes. Como Póvi já me disse, você pode me convencer de algo diferente do que eu penso; basta me convencer.

Já o Leo me disse que o fato de eu ser metido a compreensivo e analítico faz com que eu tenha um ar de superioridade sobre as outras pessoas. Algo como “bom, eu te entendo, que pena que você não em entenda.” Eu juro que não queria passar essa imagem. Mas compreendo que as pessoas costumam conviver com pessoas que batem de frente com as outras, em vez de contornar e entrar em harmonia, de forma que tendem a interpretar mal minhas intenções.

Mas, por que será que eu escrevi tanta coisa sem nexo e, ao mesmo tempo, complementares? Apesar deste ter sido meu melhor ano, descobri que estou muito longe daquilo que eu queria ser. Acho que aí está a razão para este ano ter sido muito bom. O marasmo e inércia trazem melancolia e depressão. Acredito que este ano eu fui juntando tudo que eu deveria mudar e, em contradição comigo mesmo, devo fazer um ritual no fim do ano para conseguir começar a mudar o que quero em mim.

Ok, será que isso deveria ser pauta no meu bololog? O que será que tem de útil para você, leitor, neste texto? as minhas divagações anteriores, eu não sei, mas algumas perguntas que escreverei agora podem ser importantes.

É uma pena que um ato em um dia qualquer possa manchar uma eternidade de amizade. Egoísmo, fraqueza, ou intolerância?

Por que meu modo de ser e de pensar te intrigam ou te incomodam?

O que é maior: o autor ou suas obras?

Se sua evolução compreende abdicar de coisas que agradavam aos seus companheiros, vale a pena mudar?

Eu tenho as minhas respostas pra essas perguntas. Desculpe-me se eu gosto de pensar e se procuro fazer os outros pensarem. Porém, acho que esse talento inerente ao ser humano é bastante desperdiçado hoje em dia. Assim, em vez de respondê-las, prefiro que vocês cheguem às suas conclusões - e partilhem conosco.

Até nunca mais.

Frase da Hora: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.”
 
quinta-feira, dezembro 07, 2006
 
CHANTAGEM EMOCIONAL


A época de uma monitoria coincidiu com o término de um namoro significativo pra mim. Meu professor passava as tarefas pra fazer, mas eu não achava ânimo. Acreditava que, pelo fato de eu ter passado por uma situação ruim como aquela justificava minha falta de compromisso com a monitoria. Ledo engano.

Hoje em dia, com o tanto de alunos meus cheios de coisas pra fazer, consigo perceber essa mesma falsa sensação: a de que seu baixo-astral os livrarão de suas responsabilidades.

Como professor, eu tento mostrar aos alunos que dever de casa e presença na aula não são mais que obrigação deles, assim como minha obrigação é de preparar aulas eficazes e práticas. A diferença é que muitos deles acham que eles não têm a obrigação de ir à aula nem de fazer os deveres; isso é uma opção.

Quando a época de provas chega, tais alunos faltam às aulas e não trazem as tarefas de casa. Justificam que a época de prova está acabando com o tempo deles. Claro que, ao ligar pros pais, não tenho o menor apoio: achando que estão ajudando na educação dos filhos, negociam comigo uma aula de reforço e um prazo maior pra entrega de deveres.

“Que pais compreensivos e caridosos!”, as pessoas pensam. Não. Que pais nocivos e irresponsáveis. Para ter a aprovação dos filhos, tiram deles responsabilidades que vão faltar quando essas crianças virarem adultos.

No meu caso, tenho que ficar mais tempo na escola para tratar desses pobres e incompreendidos alunos. Tenho que arranjar janelas para corrigir deveres atrasados. Tenho que me reorganizar para repor as aulas que eles perderam. Mal sabem eles como esse vício atrapalha um bando de gente.

Já no ponto de vista deles, esse apoio dos pais faz com que eles se sintam à vontade para burlar quaisquer compromissos por motivos nobres – no caso, estudar. Obviamente, quando aparece um show que eles querem apreciar ou uma festa que querem ir, alegam fadiga e pedem a permissão dos pais. Assim, conseguem um espacinho pra sair desse sufoco. Os pais, claro, deixam os filhos irem; afinal, estão estudando com tanto afinco, que responsáveis!

Agora, pergunto eu: seus filhos mantiveram a rotina de estudos durante o ano? Fizeram sua obrigação diária de estudar e fazer os deveres? Ir a plantões quando tinham dúvidas? Ou ficaram perambulando por shoppings, jogando vídeo-game, papeando no msn? Ou até passaram a tarde inteira dormindo?

Se bobear, os pais não saberão a resposta. Afinal, estavam ocupados demais trabalhando pra pagar a escola e os regalos dos filhos, como um suborno ao sentimento de culpa por não ter tempo pra eles.

Então, cabe a mim, professor, educar o aluno? Claro que não. Cada família tem seu ponto de vista em como educar os filhos. Além disso, hoje em dia, estou cada vez menos tratando de alunos e tratando mais de clientes, ou filho de clientes.

Antigamente, alunos entendiam que o professor era a autoridade na sala de aula, e a educação era vista como algo separado da corporação. Atualmente, se faço algo que desagrada ao aluno, em 10 minutos a mãe está na escola pra cancelar a mensalidade. Claro, ela tem que zelar pelos interesses do filho.

Esquece ela que, no fim do ano, seu filho estará desesperado por notas. Bom, nem tanto. Acostumado com esse ciclo de mimos, ele usa o desespero para encobrir a total falta de responsabilidade. O desespero vira uma tática, uma arma, um instrumento. Aquele choro, aquele ar de preocupação, aquela cara de cachorro pidão... sem saberem, os moleques manipulam os sentimentos dos pais.

Oras, se ele está desesperado para tirar boas notas, o pai vai entender aquilo como um interesse do filho em estudar. Claro que o pai vai fazer de tudo para que essa vontade seja feita. E é claro que o moleque nunca vai aprender responsabilidade, pois seus pais o eximem disso. Se pudessem, fariam a prova por ele.

Tais moleques crescerão e se tornarão pessoas irresponsáveis e intolerantes. São aqueles maus profissionais que fazem as coisas erradas ou não fazem os compromissos e usam justificativas emotivas para se eximirem. São aqueles amigos que atrapalham sua vida e acham que estão certos porque “amigo é pra essas coisas.” São os colegas de trabalho que te põem em saias-justas e depois pedem compreensão. São aqueles que nunca serão confiáveis, porque seus pais não ensinaram comprometimento e responsabilidade quando eles eram crianças.

E o que fazer para acabar com esse comportamento? Enquanto o filho não sofrer um trauma – repetir de ano, ou ter que ir pras aulas de inglês mesmo precisando estudar pras provas – eles continuarão achando que estão corretos ao ficarem desesperados em dezembro, apesar de não terem feito nada para evitar isso no resto do ano.

Talvez eu esteja escrevendo isso agora pela frustração que sinto por ser um empregado de uma empresa antes de ser um professor. Como empregado, tenho que manter os clientes na empresa, assim como um pai tem que manter a aprovação dos filhos. Por outro lado, meu lado educador sofre ao tirar responsabilidades inerentes a um aluno para mantê-lo na escola.

Agora, no fim do ano, em vez de ter alunos passando de ano, me deparo com um bando deles me dando trabalho extra. Dizem que é por uma causa nobre – estudar para as provas. Se soubessem o que os espera quando se tornarem adultos, sem papai e mamãe passando a mão na cabeça...

Quando justifiquei minha falta de compromisso ao meu professor da UnB, achei que obteria compreensão – afinal, dor-de-cotovelo é uma chantagem emocional e tanto. Ele me deu uma lição: “Quando você tiver uma tradução, seu cliente não vai querer saber dos seus problemas. Ele vai querer saber da tradução”

E vocês acham que meus alunos-clientes estão interessados nos meus problemas ou nos deveres corrigidos?

Frase da Hora: "Disciplina é liberdade." (Legião Urbana)
 
Um espaço pra todos lerem, pensarem e emitirem opiniões, clichês, dúvidas, críticas, palavrões, pela-saquices... ou seja: comunicação e interação! Comentários são mais que bem-vindos... eles são obrigatórios! As críticas me mostram no que posso melhorar; os elogios me mostram no que estou acertando. Sou o que sou, mas também sou que acham de mim, pois vivo em sociedade. Como diria Batman: "Não é o que eu sou, mas o que eu faço é o que me define."

Nome:
Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Ué, achei que já tinha respondido a esta pergunta... msn: nemchama@hotmail.com

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