A CADA UM SEGUNDO SUAS OBRAS
Não é todo dia que eu deparo com uma foto do grande Chico Buarque nas páginas do Correio. Lá está ele, com aqueles olhos bonitos, vestindo a camisa do time do coração, o Fluminense.
Daí, me lembro que meus amigos que torcem pelo Fluminense nunca são xingados de Fluminense, como acontece com os flamenguistas ou corintianos. Parece que eles não se importam com o fato de serem torcedores do tricolor carioca, apenas são.
Talvez seja esse o segredo da admiração, do sucesso, da idolatria que os brasileiros têm pelo Chico. Ele está tão longe, tão à parte das críticas e dos elogios que nada o atinge. Se o chamam de gênio, ele não esboça sorriso. Se o chamam de safado, ele não esboça irritação.
Quando um paparazzo tirou uma foto dele com uma mulher casada, até ensaiaram um escândalo. Só que esqueceram de avisá-lo que ele tinha que fazer parte do faniquito. Ele não tava nem aí.
Daí, ele lança um disco que vende que nem água. Sucesso de crítica e de público. Lotação esgotada, presidente Lula na primeira fila, primeira página dos jornais. E lá está ele, no dia anterior, jogando pelada com os amigos e comendo um churrasquinho, como se todo aquele circo montado pra ele e sobre ele não fizesse sentido.
Mas é, ele não precisa falar nada. Não precisa nem cantar direito (convenhamos que a voz dele não é essas coisas). Ao cantarolar os primeiros versos das músicas, ficamos hipnotizadas, como se ele estivesse fazendo um favor para nós.
Mas, na verdade, ele não está nem pensando nisso. Para ele, isso é tão simples quanto torcer pelo Fluminense.
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Daí, resolvo ir pra seção de Esportes. Deparo com uma entrevista com o ex-jogador Leonardo, lateral-esquerdo da Seleção na Copa de 1994, hoje dirigente do Milan e dono da Fundação Gol de Letra. No fim da entrevista, o repórter pergunta:
- Como você gostaria de ser lembrado?
- Não quero ser lembrado. Quero apenas fazer meu trabalho bem-feito.
Chico e Leonardo serão lembrados por terem feito um bom trabalho em suas áreas. É, mas será que eles se importam com isso?
Frase da Hora: “Eles passarão, eu passarinho.” (Mário Quintana)
TÔNICA, TERÇA E QUINTA
É, após algumas semanas sem escrever pra cá, senti falta de escrever e resolvi voltar a fazê-lo. O problema foi achar um tópico pra tal coisa.
Não que eu fique procurando um tópico só pra escrever. Isso raramente acontece. Quando eu escrevo, não só aqui, mas em qualquer lugar, é a vontade de discutir, passar informação, perguntar, que me faz escrever. Procurar um tópico só pra escrever me parece um pouco egoísta.
Que seja, se eu fosse um escritor profissional, eu teria que usar esse processo escrever -> tópico, e não tópico -> escrever; enganam-se os que acham que dá na mesma.
O problema é que eu não estava com cabeça para pensar em escrever os tópicos. Isso me fez pensar nas minhas prioridades atuais. Isso me fez pensar no que faz a gente mudar de prioridades. Isso me fez pensar na razão de eu ter um bololog.
Conversei com o Gaúcho, ele me deu sua opinião. Não concordei com a opinião dele, mas isso não quer dizer que há possibilidades de ele estar certo. Daí, isso me fez pensar sobre o quanto que as pessoas conhecem sobre nós mesmos, e nós não sabemos. E me fez pensar no quanto que estamos abertos a aceitar a visão alheia sobre nós. E me fez pensar em porquê não escrever sobre tudo isso.
E, de repente, eu tive meia dúzia de tópicos pra discorrer aqui. Daí, comecei a pensar no processo pra aparecerem tantos tópicos.
Sobre isso, só posso dizer uma coisa: talvez estejamos em busca de uma harmonia constante, mesmo que essa harmonia seja dissonante. Quem souber um pouco de música vai entender. Assim como tem aqueles que acham harmonia interior na concordância com o mundo (acorde perfeito), há aqueles que acham sua harmonia interior na discordância (acordes dissonantes, ou com acidentes, ou atonais, ou alterados).
E ainda há aqueles – acho que é meu caso – que variam nas harmonias, procurando acordes de todos os tipos. Eu me amarro nesse tipo de música, e nesse tipo de vida.
Quando está tudo bem, está tudo bem. Mas, por que não procurar coisas pra se harmonizar, em vez de ficar acomodado em tônicas, quartas e quintas (Ramones!)? Não estou aqui sugerindo que criemos problemas; já há problemas demais. Sugiro aqui que pensemos no que não está harmônico em nossa volta e, com nossa sabedoria e vontade, harmonizarmos.
Putz, isso me faz pensar no aikidô, quando a gen...
PS: Caros músicos: o título se refere aos graus de uma escala (notas); o último parágrafo se refere à sequência de acordes tão usada pelos Ramones e outras bandas de rock.
Ué, achei que já tinha respondido a esta pergunta... msn: nemchama@hotmail.com