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quinta-feira, agosto 02, 2007
 

INDIGNAÇÃO COM PAIXÃO



Isabela Tainara. 57 dias desaparecida. Quem se importa? Hoje em dia, apenas os familiares, talvez nem os amigos lembrem mais dela.

O mesmo aconteceu com outras pessoas que morreram de forma grave, macabra, violenta, estúpida. A indignação toma conta das pessoas, que se solidarizam com o caso e a vítima. Mas, como tudo no mundo hoje tem a velocidade do cabo da internet, no dia seguinte, outra coisa aparece pra indignar a todos.

No Caso Isabela, que ocupou várias páginas do Correio por semanas, outra tragédia veio para tomar seu lugar: a tragédia da TAM. Nada mais natural, pois agora os atores principais são um avião como vítima e o Governo como antagonista.

De repente, aquela corrente pra frente, todos juntos numa só direção, passeatas e manifestações aqui e acolá. É nosso sentimento mais nobre se aflorando: a compaixão pelos nossos semelhantes.

Ocorreu ontem outra tragédia, não com 200 vítimas carbonizadas, mas com uma dimensão maior: uma ponte imensa desabou, matando 30 pessoas e ferindo várias outras. Muitas estão desaparecidas, e o desabamento afetou seriamente o trânsito na região. Bom, o fato ocorreu nos EUA.

Será que essa catástrofe vai substituir as páginas dos jornais destinadas ao acidente da TAM? Claro que não. A mídia trabalha com o emocional das pessoas. Um acidente nos EUA não vai causar indignação a ninguém. Alguns diriam, “eles que se virem.” Outros clamariam, “Bem feito pros gringos.” Os exaltados afirmariam, “Tinha que ter morrido mais.”

No caso do acidente da TAM, assistimos ao boletim de plantão da Globo com sentimento de vulnerabilidade, impotência e frustração. Ao assistirmos à reportagem sobre o desabamento nos EUA, o sentimento mais nobre foi de indiferença.

A suposta compaixão não existe, nunca existiu. Toda manifestação de carinho que os brasileiros tiveram em relação ao acidente da TAM vem de um sentimento nada nobre: indignação, raiva, frustração e, mais especificamente, medo. Medo de que o mesmo acidente aconteça com um de nós. Frustração por pagarmos impostos e nada ser investido de forma sensata. Raiva e indignação, por... sabe-se lá porquê.

O que é sabido é que essa raiva e frustração não terão fim enquanto todos nós focarmos esses dois sentimentos nas tragédias alheias. Afinal, a mesma indignação que você teve num acidente vai ser usada num assassinato. Ela não é gerada quando você sabe de uma tragédia, pois ela já está dentro de nós.

Obviamente, é mais fácil culparmos o Governo ou um assassino pelas nossas próprias frustrações, nossas raivas contidas, pela vida insatisfatória e vazia que levamos no dia-a-dia. Não dá pra nos culparmos, pois somos tão bonzinhos, caridosos, solidários.

Se fôssemos tudo isso, teríamos compaixão tanto pelos gringos que caíram de uma altura de 30 metros no desabamento da ponte quanto pelas putas da África ou pelo velhinho no asilo ao lado da sua casa. Sem contar, claro, com as 200 vítimas do vôo.

Mas, em vez disso, queremos achar culpados, queremos que alguém saia mal na história. A justiça é secundária, a lição que podemos aprender com essas coisas é terciária. Queremos é vingança, cabeças rolando.

Vai levar um tempo pras classes média e alta esquecerem o acidente da TAM. Afinal, os efeitos nas vidas dessas pessoas ainda são grandes: filas, atrasos, cancelamentos, insegurança.

E a Isabela Tainara? Já é página virada. O público já tem uma coisa mais legal agora pra jogar sua indignação. Ela está melhor com a compaixão da sua família.
 
Comments:
A compaixao nao eh sentimento nobre. Eh a expressao dos fracos. Eh a fraqueza humana diante do sublime poder que nos ultrapassa. A indiferenca eh uma virtude dos fortes.
 
Pô.....legal oq vc escreveu, Brite!
Não vou dizer mt coisa pq ainda tô meditando sobre oq vc escreveu!

E qnt ao comentario acima....acho q compaixão é um sentimento muito nobre e para poucos. Compaixão sincera e desinterassada, por amor......assim como o sentimento de pena, caridade etc. Nós q distorcemos o verdadeiro sentido desses sentimentos! Assim como o de muitos outros q temos!

Flw!!
=****
 
Infelizmente isso é verdade...
Não acompanhei o caso da Isabela, apenas via os cartazes e os comentários da minha mãe preocupada com a minha irmã.
Durante a tragédia da TAM eu estava viajando e só fiquei com um pouco de medo de pegar o avião pra voltar pra casa.
Talvez fiquei assim por ver que ninguém mais lembrava do garoto que foi arrastado pelas ruas do Rio, você meio que é forçado a ficar anestesiado a notícias assim...
Bom, é isso.
 
Indiferença não é pra fracos nem pra fortes, mas pra insensíveis.

Acho que confundem muito pena com desespero com compaixão.

A compaixão mostra solidariedade em relação às mazelas alheias, e a pena mostra a incapacidade de lidar com as mazelas alheias.

Quem tem compaixão ama o próximo e se dispõe a ajudá-lo da melhor forma possível. Quem tem pena muitas vezes foge porque não consegue encarar o próximo.
 
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