UMA RESENHAQuando você vai assistir a “Diamante de Sangue”, já sabe pela mídia que se trata de uma espécie de denúncia. Mesmo assim, é um soco no estômago. Você se sente um verme por ter uma casa, uma família, um carro, um trabalho digno, direitos básicos e o cacete, e ainda assim, reclama da vida.
No fim das contas, sabemos que tudo que o filme mostra existe. Quem é mais interessado pode até ler e ver sobre o assunto mais detalhadamente em revistas especializadas, documentários e internet. Esse é um efeito da globalização: você não pode mais se fingir de ignorante. No máximo, de preguiçoso.
Por outro lado, o que fazer? O filme ensina que a lista de culpados pela exploração ilegal de diamantes começa pelos gananciosos nativos africanos, passa pelos gananciosos governos africanos e europeus, até chegar aos pescoços, dedos e pulsos de gananciosos ricos. Os mesmos atores que estrelaram o filme estarão na festa do Oscar usando adereços de diamantes, rubis, safiras, etc.
Fazendo comparações, a exploração dos diamantes implica em morte e sofrimento, assim como o tênis chinês que calço agora; ou o açúcar do chiclete que masquei durante o filme; sem falar no petróleo que me levou até ao cinema. Até a pizza que meus amigos comeram após a sessão está impregnada de queijo e carne sofridas, se levarmos pelo lado radical dos vegetarianos Estamos cercados de injustiça e sofrimento.
Geralmente, eu fico no cinema durante os créditos finais, não só porque eu gosto de ouvir a trilha e ver se há algo a mais. É a hora propícia de se pensar no filme que eu vi, seja ele um desenho, seja ele um documentário. Confesso que passei uns bons minutos pensando em qual seria minha parte a fazer para ajudar o mundo. Típico dilema de adolescente. Pior: nada concreto veio à cabeça.
Talvez umas pessoas pensem “o fato de você não fazer o mal já é um bem.” Sim, mas a sacanagem de filmes como “Diamante de Sangue” é justamente jogar na sua cara que você sempre pode fazer mais. E você sabe disso.
Aliás, os personagens centrais da trama – um contrabandista de diamantes e uma jornalista – têm justamente essa função: um espelho de hipocrisia de nós mesmos, sentindo pena de tudo que vemos, lamentando o que ocorre em volta, movendo um dedo para limpar a consciência, e cobrando, sempre, dos outros. O velho dito cristão “falas do cisco no olho do próximo, mas esqueces da trave que cobre o teu.”
Já pensei várias vezes em largar tudo e ser voluntário na África. Infelizmente, são poucas as pessoas que têm nada a perder e fazem isso. Ou que preferem perder o muito que têm para se doar a quem realmente precisa. Não são o meu caso.
Talvez, o que falta pra mim é mais estímulo. Se eu tirar um dia pra assistir a “Hotel Rwanda”, “Gritos do Silêncio”, “Diamante de Sangue” e afins, talvez eu tenha um surto e me aliste na Anistia. Ou sento de novo aqui e escrevo sobre o que deveria fazer, mas não faço.