CENAS DE NOVELA DE MANOEL CARLOS
Ontem eu tava conversando com a Isa no supermercado. Ela queria porque queria que eu procurasse uma namorada ou algo assim. Disse a ela que preferia que a relação
fosse uma consequência dos eventos, e não a causa. Procurar namorada significa querer inventar uma relação com alguém. Pra mim, namoro não se inventa, ele
acontece.
É complicado. Eu não consigo mudar meus hábitos, minha rotina pra passar mais tempo com uma pessoa e, assim, aumentar as chances de acontecer algo. O legal é naturalmente vc ir construindo uma relação com a pessoa até o dia em que estala na sua cabeça 'vai rolar'. É difícil, mas acontece.
Larrô, quando estávamos cozinhando nossa bruschetta e batata alemã, me disse que deve ser muito estranho eu namorar, porque eu não ia querer beijo e abraço dela. Bom, se eu não beijar e abraçar a mina, vai ser uma amizade. Afinal, o que caracteriza um namoro é a troca de carícias e a atração física.
Hoje, antes do nosso ensaio de 3 horas e meia, Emilinha me falou que não queria ter um namoro pra viver as mesmas coisas de um namoro anterior; que cada namoro tinha que ser algo diferente. Isso é inevitável, porque nós somos diferentes sempre que começamos um novo namoro.
Mas o que eu tenho pra tirar disso? Parece-me que o processo de arranjar namorado(a) e o namoro em si são coisas que as pessoas planejam. Relações amorosas interpessoais, então, são baseadas em compromissos, como se falar todo dia, dar presente, ter piti de ciuminho, e por aí vai.
A única coisa que eu procuraria num namoro é aproveitar a relação que eu tenho com minha namorada. Só. O resto vem naturalmente.
Mas o ser humano precisa mais que um sentimento pra ligar duas pessoas. A partir disso, o resto seria consequência, e não requisito. Se eu só te amasse, não seria o suficiente?
PS: Pelo menos, Isa me deixou feliz: despretensiosamente, ela sugeriu que eu pegasse, assim, sem o menor esforço, uma areia muito grande pro meu caminhãozinho. Fodão, fodaço.