Malhação Múltipla Escolha
Às vezes, fico pensando como as pessoas são sádicas e masoquistas. Comemoram a morte de alguém tão querido por elas; comem chocolate demais pra ficarem com remorso na segunda-feira; passam fome por alguns dias.
Para adicionar, os católicos “descobriram” agora que Judas (aquele malhado todos os anos por ter traído Jesus) apenas fez o que Jesus havia pedido a ele. Descobriram, repudiaram, condenaram. E ainda o chamam de “imundo”.
Quantas vezes somos considerados Judas por termos traído algum companheiro, por termos entregado o jogo, por termos decepcionado alguma expectativa? Nosso egoísmo, entretanto, nos impede de ver que muitas vezes isso era necessário para que algo maior acontecesse, como aconteceu com Jesus.
Qualquer leitor perspicaz sabe que Jesus já sabia o destino que ele enfrentaria; e que ele sabia que era necessário passar por aquilo. Então, há tempos (mals, Gui!) nós sabemos que Judas foi peça fundamental para a história cristã. Afinal, não fosse por ele, não estaríamos preocupados com amigolates e afins nesta semana.
Ademais, se não fosse a paixão e crucificação de Jesus, hoje ele seria lembrado apenas como mais um profeta. Heróis não viram heróis sem martírio.
Se pararmos pra pensar, veríamos que todos os leigos sabem de cor o nascimento e morte de Jesus, por causa do Natal e da Páscoa. Obviamente, porque o Natal é mágico como desenho da Disney (e tem Papai Noel) e porque a Páscoa é melodramática como novela mexicana (e tem o coelhinho).
Em suma: Páscoa e natal funcionam porque chegam e passam, e a gente só precisa comprar chocolate, presente, não comer carne por um dia, feriadão...
Mas ninguém se lembra da parte mais importante da vida de Jesus: seus ensinamentos. Quem aqui sabe as parábolas? Quem lembra do Sermão da Montanha? Se lembra, tenta aplicar na vida?
Jesus disse: “Amai vossos inimigos.” Mas teimamos em odiar Judas, até malhar Judas no sábado de Aleluia.
Jesus disse: “O que é impuro não é o que entra pela boca, mas o que sai.” Mas fazemos jejum e quaresma e não sei o que mais, para depois insultar as pessoas.
Jesus disse: “Quando jejuar, não faça como os fariseus.” Mas fazemos questão de mostrar que sofremos, que seguimos os rituais da Páscoa e afins.
Tão bonito, nunca lembrado...
Se, em vez de darmos tanta atenção às passagens fantásticas e místicas dos evangelhos, nós focássemos nas sábias e simples lições cristãs, talvez não teríamos o costume de escolher todo dia alguém para malhar. Se nos preocupássemos mais com o que é nosso, talvez entenderíamos o significado de “amar os outros como a ti mesmo.”
Mas acho que isso é difícil demais. Encarar nossas fraquezas, enfrentar nosso eu imperfeito, isso requer muita coragem. Muito mais que comer ovo de chocolate, ou não comer carne... ou malhar um boneco.
Frase da Hora: "Devemos perdoar não somente sete vezes, mas setenta vezes sete." (Jesus, sempre ele)