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quinta-feira, janeiro 12, 2006
  Contrato de Amizade
Este post é dedicado a Simões e Juques.
“O Makoto não me fez uma pessoa mais feliz hoje, como deveria ser.”

Ao me passarem essa mensagem, me peguei pensando: eu tenho obrigações com as pessoas, obrigações que eu desconheço. Afinal, não me lembro de ter feito um acordo com essa minha amiga para que eu a fizesse feliz.

Maldito Antoine de Saint-Exupéry e seu Pequeno Príncipe! Depois que ele instituiu que “tu te tornas responsável por aquilo que cativas”, agora fazer amizades pode se tornar um contrato com o diabo. Será que é por isso que hoje as pessoas têm cada vez menos amigos de verdade e muito mais amigos descartáveis?


Adendo: ‘amigos descartáveis’ é um termo tirado do filme ‘Clube da Luta’. Serve para designar pessoas que você conhece numa situação, troca idéia com elas, e depois vai embora. Deleta. Esquece. Descarta. Quantos amigos descartáveis você já teve?

Esse filme é uma lição...

Minha pergunta, então: qual é o conceito de amizade? Qual é o papel do amigo pras pessoas? Quais são nossos compromissos? Por que Exupéry fede tanto?

Quando eu me torno amigo de alguém, a última coisa que quero ser pra ele é um fardo. Amizades sinceras sobrevivem porque nenhuma das partes espera algo da outra. A relação simplesmente flui. Não há obrigação, não há compromisso, apenas amizade.

Por outro lado, quantas vezes você já esperou uma atitude do seu amigo e se frustrou? Você o culpou? É certo você culpar alguém por uma imaginação sua? Mais que isso: é certo você prender uma pessoa de quem você gosta às suas expectativas?

Não basta gostar da pessoa para ser amiga; a gente costuma avaliar o que pode nos beneficiar a partir daquela amizade. Afinal, são tantas pessoas que conhecemos todos os dias que temos que filtrar, né?

Desenvolvemos uma técnica para selecionar amigos em menos de cinco segundos. Às vezes, só olhando para o estilo da pessoa já nos faz perder a chance de conhecê-la melhor. “Nossa, que mala! Aquela ali é uma vadia. Ih, mais um pagodeiro. Deus, que paty!” Você já se pegou falando isso?

Simões, meu pior melhor amigo...


Bom, a pessoa passou da primeira avaliação. Digamos que você comece um papo com uma dessas pessoas para descobrir o que ela pode te oferecer. Você não está atrás do que ela tem de bom, mas de ruim. Um ‘deslize’ e ela tá fora dos seus planos.

Imagine agora que você gostou da pessoa. Ela tem as qualidades que você procura num amigo. É hora da sua imaginação fluir. “Fulano vai agir assim quando acontecer isso, vai reagir assado quando eu fizer aquilo. Amo ele!” E se Fulano não agir assim? “Ele é falso, que pilantra! Odeio ele!”
Justificar
Peraí: então, ele só é seu amigo se ele fizer o que você espera? Ele não pode ter a liberdade de ser ele mesmo? Seu amor por ele é condicional? Ele tem que saber de antemão o que você espera dele e se antecipar para que você não fique frustrada? Se ele te frustrar, o culpado é ele?

‘O Pequeno Príncipe’ mostra muito bem como é isso. A raposa diz a Pepê que ele só se torna especial para ela quando um precisar do outro. Necessidade, apego, dependência. Isso não soa egoísta? Não parece perigoso?


"Aí, raposona, ou você é minha amiga ou vira casaco de pele!!!"


Então, amigos, eu não quero que vocês precisem de mim. Amigos, eu não quero que vocês dependam de mim, nem que se apeguem a mim. Quero apenas que vocês gostem de mim.

Quem precisa do outro pra sobreviver não sobrevive. Ninguém vive pelo outro. Jesus viveu por todos. Buda viveu por ele mesmo. Gandhi viveu pela Índia, Madre Tereza viveu pelos pobres. Agora, se você viver pelos amigos, inevitavelmente um dia eles não agirão como você espera. E agora, José?

Uma frase que eu li num fololog de uma aborrescente ilustra bem o que eu penso. É marromeno assim: “Amo a liberdade. Amo a felicidade. Amo meus amigos. Amo tanto que os deixo livres para serem felizes do jeito que quiserem.”

Não, raposinha, não me torno responsável por algo que eu cativo. Não quero ser escravo das necessidades e expectativas das pessoas. A verdadeira amizade não é necessária, é natural. O amor não é condicional.


Parece a Juques!!!

Não, minha amiga, eu não devo te fazer feliz. Você deve ser feliz por você mesma. Senão, no dia em que eu não souber mais te fazer feliz, não seremos mais amigos. Daí, eu continuarei a ser feliz. E você será feliz com outro amigo, até que ele não te faça mais feliz. Como um amigo descartável.

Frase da Hora: “É dando que se recebe” (São Francisco de Assis)

 
Comments:
É dando que se recebe... É verdade...Mas como assim? Intão quando vc tah dando alguma coisa n deve esperar receber outra. Se a relação for verdadeiramente boa, o receber ira fluir naturalmente... Sem q ninguem se submeta a nada pois as pessoas simplismente se completaram?
Mas pra q dar ou fazer alguma coisa pra alguem? Sem querer q ela fike dependente de vc...mesmo q isso te faça bem e q vc se sinta seguro assim...Para faze-las felizes? mas pra q fazer uma pessoa feliz se vc tb n depende dela pra "ser feliz"? Eu acredito q gosto de fazer meus amigos felizes mas isso n me deixa dependente deles nem eles de mim... simpliemente a relação q tenho com eles me faz me sentir assim... Eu sou responsavel pelas minhas atitudes mas n me submeto a nada q n acho correto pra fazer ninguem feliz... Eu n espero q meus amigos façam nada por mim... Apenas espero q eles tomem atitudes boas em relação a vida... Pq se eu n aprovar as atitudes da pessoa... Q q eu to fazendo perto dela?
 
Concordo Makoto e já tivemos uma conversa que vc falou, mais ou menos, isso, mas tenho uma pergunta:

É possivel agir assim sem ser uma pessoa egoísta ou mimada?

Acho que certas relações envolvem certos sacrifícios, sei que parece cristão demais isso, mas tenho esse dilema, o que acha?
 
Para Metól:

Quando vc não precisa do outro para ser feliz, também não pensa em dar pra receber... vc simplesmente dá. É como se vc já tivesse tanto que não precisasse mais receber. Então, vc começa a dar. E eu também gosto de fazer meus amigos felizes, não é essa a questão. O que eu coloquei em questão é vc ser obrigado a fazer seus amigos felizes, e eles te terem como amigo sob essas condições.

"Mas pra que dar ou fazer uma coisa pra alguém?" Nós, seres humanos, não somos auto-suficientes. Mas isso não quer dizer que temos que depender dos outros e se acomodar com isso. O segredo é dar aos outros sem que os outros fiquem mal-acostumados com isso.

Para o Gui:

Quando vc tem isso naturalmente em vc, deixa de ser sacrifício, não acha?

Não digo que sou assim, acho que pouquíssimos são. Há dias em que preciso de pessoas, há dias em que não estou muito a fim de papo... mas isso é aceitar minha condição de imperfeito e tentar me aperfeiçoar.
 
Putz.. vc falou tanta coisa que não sei bem por onde começar.
Acho que sempre há uma certa expectativa no início de uma amizade.
As pessoas não se relacionam porque querem algo em troca?
sejam trocas de experiências, ou apenas porque buscam companhia,diversão.
Depois que duas pessoas se conhecem a ponto de considerarem um ao outro como amigo,aí vc passa a não se importar com o que vc tem a ganhar com a amizade.
Dendência é terrível.
Eu já passei por isso Oo
e vi meu amigo ser feliz, fiquei triste pq ele não sentia falta de mim.- a porcaria continuava sorrindo, sendo que eu estava quase morrendo por tê-lo perdido?-
Claro que depois que desencanei disso,sou muito muito mais feliz!^^
e ainda voltei a ser amiga do meu amigo hahhahahahahhah pq deixei de "precisar" dele.
e se por acaso alguém partir, continuarei sendo feliz.- apesar da saudade, talvez. - cara, eu sinto saudades das pessoas, mas como tudo na vida... passa.
O segredo, creio eu, é não se prender a uma pessoa, ou algo.. a gente não tem nenhuma certeza nesta vida Oo-além de quê vamos todos morrer mesmo XDDD

Outra coisa... não é certo julgar pelas aparências.. já pesou quantas pessoas bacanas deixamos de conhecer, conversar, por causa do visual, ou qualquer besteira do tipo?
Massa vc ter colocado isso aqui. Acontece demais de avaliarmos alguém por causa da aprência!
quanto a esperar alguma reação de alguém, disto eu não sei.
Nunca esperei nada. Eu acho que meu problema é gostar tanto do outro, que acabo por me dedicar aos amigos, e meio que esquecer de mim.
Oo
isso não é bom, e esse ano fiz grande progresso quanto a isso, não é?
tem que saber balancear as coisas.
\o\
atéeeee
(caracas, falei demais Oo)
:***
se não entender fala comigo no msn, pq eu acho que, mais uma vez, me embolei toda ashuuhasduhadsuhuhdauhas
 
Acho que vc não embolou nada, Totes!

Quanto às expectativas do começo de amizade, acredito que as expectativas deveriam vir da relação em si, e não do qeu vc ganha com ela. O bom de conhecer pessoas novas é justamente ter experiências novas, mas não fazer disso um compromisso e muito menos jogar essa responsabilidade para a outra pessoa.
 
você tem razão... o mesmo é válido pra qualquer espécie de relacionamento, seja entre marido e mulher, dono e empregado, cachorro e você... o nosso grande problema é achar que as pessoas têm um dispositivo permanente de interpretação de tudo aquilo que mentalizamos que elas façam e, pior de tudo, imaginamos que esse dispositivo é infalível e isso é o que condicionará essa pessoa a receber o título ou o julgamento de amigo, grande amigo, colega ou comum, não sei... acho que é por isso que brigamos tanto conosco mesmos, por esperar tanto e não receber tudo... a grande questão é pensar por que sabemos de tudo isso e ainda agimos assim! é óbvio que é algo natural, espontâneo, automático... mas por quê? é um bom tema pra uma próxima postagem!!! ou pra uma boa reflexão!
 
Poxa, poxa, Makoto. Eu sei que a sua intenção ao possuir um bobolog e uma caixa de comentários é antes de tudo para que as pessoas leiam, reflitam, comentem e debatam, mas fica difícil comentar quando vc já disse tudo! Não tou puxando saco, mas eu devo concordar com tudo, porque o que vc disse é o ideal. Esse é realmente o pensamento sobre o qual as pessoas deveriam se apoiar. Porééém... quase nunca isso funciona.

Eu mesma, que me considero uma pessoa de pouco apego até, volta e meia me vejo sentindo possessividade, irritação com as imperfeições dos outros, expectativas que não deveriam existir... and so on. Então eu acrescentaria que é extremamente humano sentir esse apego pelas pessoas com quem nós convivemos, porém que é mais humano ainda procurar sempre superar isso. E exercitar ver as amizades não como um compromisso, um contrato pessoal, e sim como dois caminhos que por alguma razão estão passando próximos, e que inevitavelmente podem se aproximar, ou então divergir.

No fim das contas, é mais saudável encarar uma relacionamento dessa maneira, pois as mudanças ocorrem e vai sofrer quem não estiver preparado para isso.

Gostei do seu post, como sempre.
Até a próxima, Makotemo. :)
 
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Nome:
Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Ué, achei que já tinha respondido a esta pergunta... msn: nemchama@hotmail.com

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